sábado, 30 de julho de 2011

Entrevista: Ricardo Sasaki (parte 2)

            Conforme prometido, vamos então dar continuidade à entrevista com o Sasaki:




            CF – Como é trabalhar com os jogadores? Eles são muito manhosos ou fazem tudo da melhor maneira possível?

Sasaki – Vou te falar uma coisa que é bom de trabalhar aqui no São Paulo. Quando o jogador chega aqui, da mesma maneira que ele tem um nome e um prestigio, o Reffis também tem. Então ele vem sabendo onde esta pisando, existe um respeito. A gente nunca teve problema com nenhum atleta com relação a  vir tratar, não querer tratar. Aqui é muito difícil ter isso.

            CF – Algum jogador já fingiu estar machucado?

Sasaki – O famoso “migué” de jogador. Quando o jogador se machuca, ele vem dois períodos direto. Se o cara não quer ir para uma determinada partida, ele vai sofrer aqui dentro, porque vai ficar as vezes 3 horas de manhã e 3 horas a tarde. Só que  ele entra aqui, e não fica deitado na maca, se ele consegue correr na esteira sem dor, ele vai correr aqui.
Tem dois aspectos isso, um é fazer a manutenção da parte física dele, e o segundo, se ele tiver dando o “migué”, vai acabar trabalhando muito mais. Se você quiser perguntar pra qualquer atleta que entra aqui no Reffis, ele vai te falar que ele trabalha muito mais aqui.

            CF – Qual foi o caso mais complicado que você já pegou?

Sasaki – Sabe qual é o caso mais difícil? O caso mais difícil é sempre aquele que você está tratando no momento. Ou é o último, ou é aquele que você está tratando. É este que está te dando dor de cabeça, é este que tira seu sono. Então se vierem me perguntar hoje, o caso mais difícil é o do Luís Fabiano.
O retorno dele tem que ser uma coisa mais tranqüila, ele tinha uma tendinopatia no semi-tendinoso, que ele rompeu. Você sabe na verdade que este tendão é usado para fazer reconstrução do LCA, então na teoria iríamos deixar ele quieto para tentar cicatrizar, e não teria que pensar numa cirurgia. Só que este tendão já tinha um problema, e quando optamos por fazer esta cirurgia, a gente viu que o tendão dele estava alterado.

CF – E o Kaká? Você chegou a tratar ele por causa da dor no Púbis?

Sasaki – Tratamos ele com dor no púbis aqui, mas neste último ano ele ficou bem preso lá no Real Madrid.
É normal, acho que dor no púbis é normal, todo atleta tem dor no púbis. Ele ficou este último ano dentro do Real lá, se tratou, ficou acompanhado direto pelo pessoal do Real, então eu conversei com ele, mas conversei mais de outras coisas do que de vir tratar aqui alguma coisa.

            CF – Como funcionam nas viagens? A equipe de reabilitação faz um rodízio?

Sasaki – A maioria das viagens eu faço. Como o Rosan viaja mais por causa da seleção, eu assumo as outras viagens aqui. Uma ou outra o pessoal já pega, o Alê pega, o Beto também vai viajar, não tem  problema nenhum.
É uma coisa que a gente decidi, o setor é bem independente. Se a fisioterapia está trabalhando legal, está tudo direitinho, não está dando falha, então não tem problema nenhum, entre nós, a gente se ajeita, só não pode dar furo.

            CF – Nas viagens, onde vocês atendem os atletas?

Sasaki – O clube monta um quarto só para isso no quarto em que eu vou ficar.
Assim, eu procuro sempre levar tudo que tem de melhor em portáteis. Primeiro tomada, tem que levar um montão de plug. Além disso, tem estádio que não tem estrutura nenhuma, nem energia elétrica tem, então se tiver equipamento à pilha ou bateria é melhor.
Nesses jogos que você faz mais curtos, como campeonato brasileiro, com viagens mais curtas, você consegue levar pouca coisa, não precisa levar equipamentos grandes, pois acaba não usando.

            CF – E o que você não deixa de levar?

Sasaki – Sempre? Você tem que pensar na verdade, num trauma agudo, como um entorse, numa contusão.
Para o atleta que está indo com alguma coisa crônica, você vai levar algo para analgesia. Se ele estiver muito ruim e não tem condição de jogar, não vai nem viajar, então você sabe que ele está saindo daqui com condição de jogar.
 O máximo que você vai fazer é algum tipo de manutenção. Só alguns casos onde você vai com algum atleta que vai fazer algum teste lá, aí sim você leva algum outro tipo de equipamento, alguma coisa de eletroterapia, uma coisa maior.
Mas as coisas básicas são as bandagens compressivas, aqueles “U” de tornozelo, alguma coisa para fazer gelo, e alguns aparelhos de eletroterapia que te possam dar analgesia. Isso é o básico, alguma coisa pequena, tranqüila, que dê para levar.

            CF – Como é o convívio com a equipe técnica? Há muita cobrança?

Sasaki – A cobrança que tem é a cobrança normal, que existe em qualquer trabalho. O técnico vai sempre te perguntar quando que ele vai poder contar com um jogador, então você conversa e fala que pra daqui a 2 semanas, então você se programa pra daqui a duas semanas entregar o atleta, por que se não entregar, o técnico tem todo o direito de vir te pressionar, porque ele é pressionado. Mas isso é uma coisa muito profissional aqui dentro, você fala uma vez e pronto.

            CF – E a mudança de técnico, atrapalha?

Sasaki – Isso é ruim, tanto é que o São Paulo mantém. Mas a maioria dos técnicos são super tranqüilos em relação à isso. E o clube já filtra, porque a escolha de um técnico pra vir treinar o São Paulo é muito bem feita, não é um técnico despreparado.

            CF – Quais são os prós e os contras de trabalhar num grande time de futebol?

            Sasaki – E a coisa boa, é que eu trabalho com uma coisa que eu sempre quis trabalhar. É legal? É, é super legal!
Os contras são vários! Primeiro que eu estou velhinho, com 46 anos, estou cansado de viajar e trabalhar sábado e domingo. Trabalhar todo sábado e domingo, e quase nunca ter folga é uma coisa complicada, porque você tem família, e a idade, eu vejo que hoje com 46 anos eu demoro mais para me recuperar pras coisas que eu tenho que fazer, então isso é uma coisa que é desgastante.
Outra coisa chata é a cobrança que você tem de fora. Você perde um jogo importante e no dia seguinte não pode ir na padaria, você desce no seu prédio e o zelador já pergunta pra você “mas o que aconteceu?”, e você tem que ser educado e responder. São coisas chatas, você ter esta cobrança, e o dia que você não tiver muito legal, pode responder atravessado, ser mal educado e arrumar uma encrenca, então isso você também aprende no futebol.
E não é só quando perde, quando ganha o cara também quer perguntar as coisas, e você não quer falar sobre isso. Eu dificilmente falo de futebol fora do trabalho, eu evito.

            CF – Agora alguns clubes estão levando o fisioterapeuta para o campo,  atendendo as intercorrências no gramado. O que você acha disso?

Sasaki – Minha opinião é a seguinte, acho que é uma questão de funcionamento. Por exemplo, um atleta luxa o ombro, a gente tenta reduzir em campo e não consegue, desce para o vestiário, tenta reduzir no vestiário e não consegue, vai para o hospital. Quem tem que ir para o hospital, quem é mais gabaritado para chegar no hospital, passar o que está acontecendo, e até entrar num centro cirúrgico? Você acha que é o massagista que deveria estar no vestiário e o fisioterapeuta no campo?
Acho que dentro de campo é o médico para fazer o diagnóstico e ver se tem que descer para fazer um tratamento no vestiário, o massagista que muitas vezes também é enfermeiro e sabe fazer o curativo e a massagem que o fisioterapeuta aqui no Brasil não vai fazer, e o preparador físico.
Eu não vou poder ficar no campo. O massagista não vai ficar no vestiário para fazer o tratamento que eu acho que tem que fazer num atleta enquanto eu estou em campo. Então eu acho que sou mais útil fora do campo do que dentro.
Eu já ouvi algumas pessoas falando que você tem que fazer isso para aparecer a profissão. E não, a profissão não tem que aparecer desta maneira, só para estar na mídia. Apareça na mídia por um trabalho que você está fazendo bem feito.

            CF – Na sua opinião, o que é preciso para ser um bom fisioterapeuta?

Sasaki – Primeiro, gostar da fisioterapia, e mais que isso, gostar daquilo que você faz dentro da área da fisioterapia. Ser persistente naquilo que você quer fazer, naquilo que você gosta.
E lógico, você precisa estar preparado para poder estar trabalhando com isso. E não é só estudar, você tem que ter um pouco de prática também. A gente estuda, estuda, estuda, e na hora de aplicar aquilo na prática, algumas coisas são diferentes. Mas é muito importante você ter o embasamento, se você não tiver, você não consegue tocar a prática.

            CF – O que falta para a fisioterapia ser melhor valorizada no Brasil?

Sasaki – Olha, eu estou trabalhando hoje no HCor. Então eu tive uma outra visão, numa parte administrativa, com relação à plano de saúde, valores, enfim. Acho que a má remuneração leva à um mau atendimento, e um mau atendimento leva à um mau profissional.
O que acontece hoje no Brasil é, quem tem plano de saúde não quer pagar particular para poder fazer fisioterapia, e o que os planos de saúde pagam por atendimento é vergonhoso. Então você vai ficar se submetendo à um atendimento de baixo preço e de má qualidade.
Não dá para querer fazer um atendimento de ótima qualidade com o plano de saúde querendo te pagar 7 reais, 4 reais, pela fisioterapia. Assim, a imagem do profissional fica ruim, a fisioterapia é ruim e não dá resultado.

            CF – Que conselho você daria para um recém formado que quer trabalhar num grande clube de futebol?

Sasaki – Primeiro é você ter certeza daquilo que quer fazer. Dificuldades vão existir, claro que vão. Em São Paulo são 4 grandes clubes, então o número de fisioterapeutas é restrito. E quantos se formão todo ano? Por aí você já começa a ver o quanto é difícil. Vai ter que se preparar para isso.
Por isso que eu falei também, uma questão de sorte. Eu tive sorte? Tive, mas sorte é capacidade com oportunidade, tem que estar preparado para quando a oportunidade aparecer. Aparece a oportunidade e, se você não estiver pronto, é difícil, aí você vai perder aquela chance e talvez ela não volte mais.
Uma outra coisa também é que hoje todo mundo olha pra mim e acha fácil, ser fisioterapeuta do São Paulo. Mas não foi simples assim, a minha vida pessoal mudou muito trabalhando com esporte, eu me separei, você tentar arrumar uma família e uma mulher que aceite como é o futebol é difícil, a pessoa que está do seu lado tem que entender muito bem isso daí, é complicado.
E tem que pensar em tudo isso. Por que as pessoas só pensam no glamour, no futebol.
E se você quer sobreviver dentro do futebol, é uma outra coisa que eu falo, não apareça muito. Quem tem que aparecer são os jogadores, o técnico e alguns dirigentes do clube. Departamento médico quando começa a aparecer demais, está dando problema, a coisa não está boa.
Você tem que saber a sua posição dentro do clube, como fisioterapeuta, como quem cuida dos atletas. Quem começa muito cedo a trabalhar com esporte, com futebol, acha que tem que ter uma vida de atleta, quer seguir a mesma vida do atleta, e isso é um problema. Você sai com o atleta, tem amizade com ele?Sim, pode sair e ser amigo, não tem problema nenhum, só que você é da comissão técnica. São pequenos detalhes que você deixa se levar, e que podem dar problema.

É isso ai, espero que tenham gostado!



quarta-feira, 27 de julho de 2011

Entrevista: Ricardo Sasaki (parte 1)


            Semana passada eu tive a honra de entrevistar o fisioterapeuta do São Paulo Futebol Clube, o Ricardo Sasaki. Fui até o CT do São Paulo, onde fui muito bem recebido e conversamos numa sala do REFFIS – Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiológica. Gostaria de destacar a simpatia e a atenção do Sasaki, que prontamente me atendeu, embora estivesse na correria do dia-a-dia.
            Tivemos, na verdade, uma conversa descontraída, onde pude conhecer melhor a sua história na fisioterapia, pude ouvir algumas histórias sobre o mundo do futebol, além de obter algumas de suas opiniões quanto à alguns temas.
            Muito feliz com esta oportunidade, divido com vocês as palavras deste mestre! Serão dois posts, dividindo a entrevista em duas partes.

            CF – Qual a sua formação?

Sasaki – Primeiro eu fiz educação física na FEFISA (Faculdades Integradas de Santo André), e assim que eu terminei, ingressei na PUC de Campinas para fazer fisioterapia. Fiz uma especialização em ortopedia esportiva na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e outra em fisiologia do exercício na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

            CF – O que te fez sair da área de educação física?

Sasaki – Quando  estava no último ano de educação física, comecei a trabalhar numa clínica que fazia um trabalho de transição entre a fisioterapia e o esporte, e era no futebol. A partir daquele momento eu decidi que ia fazer fisioterapia, era daquilo que eu gostava.

            CF – Além desta formação, fez algum curso de extensão?

            Sasaki – Fiz sim. Eu tenho alguns cursos, como de Osteopatia, mas não sou um fisioterapeuta de mão cheia neste aspecto. Eu acho que as pessoas que fazem esta parte de terapia manual tem que ter um feeling, um pensamento, uma mão.
            Minha mão eu acho fraca para isso, me dou melhor numa outra linha que levo, que gosto mais, uma linha mais mecanicista, com uma parte de eletroterapia, uma parte de exercícios e cinesiologia. A educação física e a parte de fisiologia me ajudaram muito para a prescrição de exercícios, isso é uma coisa que ajuda demais.

            CF – O que você ainda quer estudar? Tem algum curso que pretende fazer?

Sasaki – Nossa, tem tanta coisa que você vê hoje! Fica difícil eu te falar um curso, mas eu gostaria de ter tido mais oportunidade de ir à alguns centros de reabilitação no exterior, principalmente nos EUA, pois o que eu conheço fora do pais é apenas relacionado ao futebol. Eu conheço pouco dos EUA sobre centro de reabilitações e algumas coisas que conheci, gostei muito. Também gostaria de conhecer uma parte na Europa em geral, principalmente nos países que jogam futebol. É uma loucura o como o americano pensa e como o europeu pensa.

            CF – Então você sempre foi para esta área ortopédica e esportiva?

Sasaki – Sempre fui para a área de traumato-ortopedia, mas teve uma época, por causa da parte de fisiologia, que eu quase fui fazer cardio-respiratório! Passei até no Dante Pazzanese, deu uma chacoalhada, mas não adiantou, era ortopedia mesmo que eu gostava, uma coisa que eu sempre fui focado.

            CF – Sempre trabalhou com futebol?

Sasaki – Não. Logo que me formei em fisioterapia, eu precisava começar a trabalhar para ganhar dinheiro. Tive o convite de um amigo, Fernando Guimarães, que trabalha com hipoterapia, e fiquei trabalhando uns 6 meses com ele. Mas na verdade, o Fernando me convidou para ir pros EUA fazer um curso e me especializar em hipoterapia, então eu tive que recusar, pois se eu fizesse este curso, largaria tudo que havia feito atrás. Então falei para o Fernando que não dava, que eu adoro cavalos, mas tratar das crianças com problema neurológico, pra mim era  uma paulada.
Mas acho que eu tinha que passar por isso, passei, aprendi muita coisa, agradeço muito ao Fernando, foi muito legal. Mas é complicado, você precisa ter uma estrutura boa para poder trabalhar em neuro infantil.
Essa foi a época que eu não trabalhei com futebol, depois logo fui trabalhar no São Bernardo, trabalhei numa clinica de ortopedia que tinha esse contato, depois eu fui chamado para trabalhar no Bragantino.
Comecei como estagiário no Bragantino, com o Rosan e o Marco Aurélio, que tinham saído do São Paulo e ido pro Bragantino. Uma época eu fiquei nas categorias de base, e o Rosan tocava o profissional.

            CF – Como você chegou ao SPFC?

Sasaki – Então, o futebol tem alguns problemas dependendo do time que você pega. Eu fiquei 6 meses sem receber do Bragantino, isso foi em 1994/1995, e chegou uma hora que eu pedi para ser mandado embora. Foi nessa época que o Fábio Mahseredjian, um amigo que fez faculdade comigo, também estava no bragantino e hoje é preparador físico da seleção brasileira e do internacional, me chamou para ir para a Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), para trabalhar junto com o Dr Turíbio Leite de Barros.
Trabalhei por um bom tempo com esta parte de fisiologia do exercício na Escola Paulista de Medicina. E daí surgiu a oportunidade de eu vir pro São Paulo. Porque o São Paulo precisou de um fisioterapeuta e de um médico, e na época o Dr. Turíbio indicou eu e o Dr. Antonio Maceo de Castro, o Tonhão.
Por sorte, o técnico que estava aqui era o Parreira, e eu tinha trabalhado com ele no Bragantino.
Essas coisas no futebol, parece uma coisa de panela, uma coisa fechada, mas ajuda muito as pessoas saberem com quem vão trabalhar. São cargos de confiança.

CF – Foi considerado o 9º melhor fisioterapeuta do mundo pelo site espanhol Guia Lo Mejor Del Mundo (GMM). Como foi ter este reconhecimento?

Sasaki – Não é desmerecendo as coisas, mas é, na verdade, um site de jornalistas e a análise foi feita por eles. Eu te garanto que tem um montão de fisioterapeuta melhor do que eu, como tem um montão que é pior, e isso ai foi pelo contato que eu tive fora, pessoas que eu tratei fora, então não é um título pela capacidade técnica, mas talvez por quem eu tratei fora.

            CF – O que você vê de diferente na fisioterapia do exterior em relação à do Brasil?

Sasaki – Lá fora o números de recursos é enorme, tanto nos EUA quanto na Europa, pois a quantidade de equipamentos que são lançados é muito grande. Acho que no Brasil, agora com a abertura para a importação, e mesmo o acesso a compra que a internet proporciona, as coisas vão ficar mais fáceis, só que o preço aqui no Brasil é algo exorbitante com relação aos preços lá fora.
Já quanto à maneira de trabalhar, eu não vejo pessoal melhor que aqui no Brasil, não é puxando a sardinha, mas aqui o cara tem uma outra visão. O jeito do brasileiro é assim, se você falar para o cara que tem uma borrachinha e uma geladeira, ele se vira para fazer fisioterapia!
Para o brasileiro o que você der na mão dele, ele se vira e faz o que tem que fazer, e faz bem. Isso eu acho que é diferente, porque o cara lá fora esta acostumado a ter o equipamento, e quando ele não, não sabe o que fazer.

            CF – O que você acha que faz os atletas virem do exterior para serem tratados aqui? É a confiança que ele tem nos profissionais e no clube, é a qualidade dos profissionais, é a estrutura do clube, ou o fracasso no tratamento lá fora?

Médico do Inter visita o São Paulo
Sasaki – Eu acho que tudo, é isso tudo que você está falando. Alguns atletas é muito pela confiança, você vai criando um vínculo e ele vai confiando em você. Isso eu acho que independe um pouco da sua capacidade.
Outra coisa é que lá fora eles trabalham bem diferente. É aquilo que eu estava te falando, eu gosto muito de terapia manual, como Rolfing e osteopatia, e quando eu não sei aplicar, e sei que o atleta vai precisar, eu indico para uma pessoa, o atleta faz e depois volta comigo e continua trabalhando.
E eu acho que importante também é com relação à prescrição de exercícios. Você fazer uma resistência para um atleta só com a sua mão, uma resistência manual, e achar que vai ser suficiente para ele voltar para a atividade dele, é um engano, eu acho muito difícil o atleta ter condição de voltar pra fazer a atividade.
E é isso que acontece muito lá fora, reabilitação com resistência manual e terapia manual.
Vou te contar uma história que foi muito engraçada. Teve um ano que veio o Edmílson, o Tiago Mota, enfim, vieram vários jogadores do Barcelona, para se reabilitar aqui. E de lá veio também um fisioterapeuta do Barcelona. Depois eu fui pra lá, para retribuir esta visita, e era vergonhoso o que os caras tinham de estrutura como fisioterapia, isso era 2006/2007, era ridículo para um clube como o Barcelona. Tanto é que depois disso, que os caras viram como que era aqui, o presidente mandou fazer uma nova estrutura para eles.

            CF – Como funciona a vinda de um jogador para se tratar aqui no Reffis?

Sasaki – Os atletas vem para o Brasil e tentam conciliar a folga com o tratamento aqui no Reffis. Mas quando você quer prorrogar demais esta permanência aqui, o clube quer que ele volte, e como ele é atleta do clube, não pode ficar aqui.
Então fica sempre uma coisa quebrada, foi até uma tema de discussão aqui, se vamos continuar aceitando este tipo de coisa, ou não. Porque a gente tem uma metodologia de trabalho, e depois o cara tem que voltar para lá, com outro tipo de trabalho, isso é um problema.
Nós até tentamos passar o que é para fazer lá. Um exemplo que dou para você é o Júlio Batista, ele veio, ficou um tempo. Ele teve uma lesão de menisco, fez a cirurgia aqui no Brasil, e fez uma fase da reabilitação aqui. Só que ele teve que voltar, então nós mandamos um fisioterapeuta daqui, que ficou um tempo com ele lá, pra ele poder voltar, e voltou super bem.
O São Paulo permite isso para alguns atletas, para outros não dá. Se vai fazer uma falta aqui dentro, não dá para ficar liberando o fisioterapeuta para poder ir com o jogador.
Não dá, por que a gente não ganha nada com isso e o clube também não. Ele ganha na verdade na idéia que o Juvenal teve de montar o Reffis e dar um status para levar este nome para o exterior. Dá prestígio ao clube, saber que é um clube sério. Porque antigamente, o problema era que o jogador falava que vinha para o Brasil para fazer fisioterapia, só que os caras achavam que ele queria voltar para ver a famílias e os amigos. Então vários fisioterapeutas de fora vieram e viram que não. Lá fora, não se trabalha dois períodos, lá só se trabalha o período que o jogador está no clube. O atleta vem ver a família? Vem ver a família, mas ele trabalha pra caramba também.

            CF – Como vocês dividem os pacientes entre a equipe aqui do Reffis? Há alguma divisão?

Sasaki – Não, caiu aqui é para todo mundo. Até porque, o cara faz todo dia 2 períodos de fisioterapia, é de segunda à segunda se precisar, só no domingo que ele faz um período apenas na manhã.
Então não tem isso, tem mês que eu viajo e os jogadores ficam com o pessoal que está aqui para tratar, ou eles viajam e eu tenho que ficar para tratar.
Assim, uma coisa que é principal, que eu acho que dá certo aqui dentro do Reffis, é o grau de amizade que a gente tem, eu, Rosan, Betinho, Alê, Cilmara. É o grau de amizade, e essa amizade na verdade, na capacidade da gente se comunicar, tanto comunicar aqui entre nós, como com os outros setores do clube.
Outra vantagem é que o Sanches está aqui direto, então qualquer problema a gente discute com ele e toca o tratamento pra frente. 

            Por hoje é isso! E não deixem de ler o resto da entrevista, em que ele fala mais sobre o dia-a-dia com os jogadores, viagens, técnicos, Kaká, Luis Fabiano e sobre a fisioterapia no Brasil. Não perca o post sábado!


sábado, 23 de julho de 2011

Massagem Esportiva


            A massagem esportiva de competição tem como objetivo dar ao atleta condições favoráveis para a preparação e a recuperação do esforço físico.
            Podemos diferenciar a massagem de competição em massagem pré-competição, massagem entre competições e massagem pós-competição.

            A massagem pré competição pode melhorar o potencial do atleta para um desempenho vitorioso. Ela objetiva aumentar a circulação e a temperatura central, facilitar as trajetórias neuromusculares, além de fornecer feedback cinestésico melhorando a consciência corporal, flexibilizar e afrouxar a fáscia e outras estruturas do tecido conjuntivo e diminuir o excesso de tensão muscular.
            É uma massagem mais vigorosa e de ritmo mais rápido, buscando os benefícios da massagem, sem levar a um relaxamento que retire o atleta de seu limiar competitivo.
            A massagem entre as competições é realizada em torneios com várias competições num mesmo dia, ou mesmo no intervalo de jogos de futebol, basquete, dentre outros. O principal objetivo é identificar e tratar quaisquer área de tensão excessiva que tenham se desenvolvido durante o exercício.
            Nestes dois tipos de massagem, o uso ou não de creme emoliente é importante. Um primeiro fator a ser considerado, obviamente, é a vontade do atleta, entretanto o terapeuta não pode se limitar a isso. Nos casos em que o atleta veste uniforme para o corpo todo, dispositivos para treinar ou em competições em que a lubrificação residual sobre a pele pode causar escorregões ou retenção de calor, recomenda-se as técnicas de massagem seca.

            A massagem pós competição auxilia na recuperação, reduzindo as tensões musculares desenvolvidas durante o exercício, facilitando a captação de edema (inchaço) e o movimento linfático, auxiliando o retorno venoso para sustentar a recuperação, desativando pontos-gatilho e reduzindo o risco de dor muscular de início retardado.
            Diferente das massagens comuns, a massagem de competição se foca nos grupos musculares mais exigidos na prática esportiva e em possíveis queixas do atleta. Isso é válido principalmente para a massagem entre competições, em que o tempo é extremamente escasso.
            É importante que as massagens de competição sejam algo a mais, sem atrapalhar a rotina normal do atleta. Assim, a massagem não substitui o aquecimento e resfriamento, mas sim os complementa.
  

sábado, 16 de julho de 2011

Treinamento é coisa séria... e complexa!

  
Há algum tempo atrásRecentemente assisti duas aulas sobre treinamento. Uma delas abordou os princípios do treinamento, enquanto a outras abordou a periodização, sendo brilhantemente ministradas pela Cristina Porto Alves Alcântara e Sérgio Luiz de Oliveira, respectivamente.
Além de serem fisioterapeutas, também são graduados em educação física, e dessa forma o enfoque foi maior no treinamento esportivo, mas também foram feitas correlações com a abordagem fisioterapêutica de reabilitação.
Assisti estas aulas no Grupo de Educação Continuada em Ortopedia e Medicina Esportiva, do hospital São Luiz (vide link Hospital São Luiz em "aprimore-se" e NEO em "visite também").
            Já tinha algum conhecimento, principalmente na parte de princípios de treinamento, que é um assunto muito interessante. A aula abordou e destrinchou cada um dos princípios, que podemos resumir brevemente da seguinte maneira:

1.Individualidade biológica: relacionado ao genótipo e fenótipo do indivíduo. Cada indivíduo tem suas peculiaridades, fica fácil pensar neste principio quando consideramos que as pessoas apresentam diferentes proporções em número de fibras musculares tipo I (lenta) e tipo II (rápida), e assim terão diferentes respostas a um treinamento de força, por exemplo;
            2.Adaptação: capacidade de se adaptar após um estimulo, buscando a homeostasia. É  “supercompensação” pós estímulo;
            3.Sobrecarga: o organismo precisa ser desafiado para gerar uma resposta que venha suprir esta necessidade. A carga (peso, velocidade, equilíbrio, duração da atividade...) não pode ser baixa, pois não gera adaptação do organismo, nem exagerada, pois é potencialmente lesivo e pode levar à um quadro de overtraining;

4.Interdependência volume-intensidade: podemos aumentar a carga de um exercício através do volume ou da intensidade. Em geral, não se aumentam os dois ao mesmo tempo, e isso varia com o estágio do treinamento;
            5.Reversibilidade: parou de treinar, regridem as capacidades adquiridas com o treinamento; e
            6.Especificidade: a capacitação do organismo ocorre de maneira específica ao estimulo que lhe é dado. Se treino chutar uma bola com força, fico bom em chutar a bola com força, mas não necessariamente fico bom em chutá-la com precisão (chutar colocado).
Para se obter o melhor desempenho esportivo, estes princípios devem ser considerados e aplicados.
Mas o mais interessante do encontro em grupo, foi a aula sobre periodização, que é um assunto muito complexo e que ainda não havia tido contato.
Numa periodização, são aplicados todos os princípios do treinamento, levando-se em consideração o calendário de competições. 

Veja na figura à direita: ela mostra variações de evolução no treinamento através do volume e da intensidade, respeitando períodos de preparação, competição e de transição (pós competição/ recuperação), tudo isso numa programação elaborada dia-a-dia num formato anual (macrociclo), mensal (mesociclo) e semanal (microciclo) todas combinadas!!! Viu a confusão?!
Para deixar "ainda mais simples" pode-se programar um pico (peak), que corresponde ao período em que o atleta estará no auge do seu desempenho físico, técnico, tático e psicológico, para uma competição, ou etapa de uma competição.
Tudo isso ainda está sujeito às incertezas que o profissional de educação física tem a respeito da resposta do atleta ao treinamento (princípio da individualidade biológica, por exemplo).
Com todas essas dificuldades, podemos ver um atleta bater recordes semanas ou meses antes ou depois de uma competição importante, e na competição ele não ter o mesmo desempenho. Isso ocorre quando o atleta atinge o pico antes ou depois do esperado. Um erro compreensível diante de tantas variáveis!

Mas o mais interessante disso tudo é: quantas pessoas se prontificam a treinar uma modalidade esportiva objetivando ganhar competições, sem ter nenhum conhecimento sobre treinamento e não ter um acompanhamento de um profissional capacitado?
A falta de orientação e objetivos muito gananciosos podem levar à overtraining, lesões, frustrações e problemas de relacionamento social e familiar. Vimos na aula que um atleta de ponta corredor de maratona tem, normalmente, como objetivo vencer uma única competição no ano (que corresponderá ao período do peak na periodização). As outras provas que ele disputa, inclusiva de outras categorias, fazem parte da programação de sua preparação.

Treino em excesso: declínio de performance
Um atleta desavisado pode ter queda de rendimento por excesso de treino (a falta de repouso adequado leva à falência do sistema musculoesquelético) e treinar mais no intuído de recuperar o desempenho!
O contrário também pode acontecer, ou seja, um atleta pode treinar de maneira insuficiente, não atingindo seus objetivos, ou ainda ter uma lesão numa competição em que faça um esforço maior, sem estar bem preparado para isso.
Falamos muito de atletas, profissionais ou amadores, mas a orientação também é fundamental na prática de atividade recreativa, estética ou por uma vida saudável, e não apenas para quem almeja competições. O acompanhamento de um profissional possibilitará que os objetivos sejam atingidos de maneira segura.
Espero ter alertado sobre a importância de um treinamento bem feito, tanto para um bom desempenho quanto para a prevenção de lesões. Caso queira praticar algum esporte, seja ele recreativo ou competitivo, procure um profissional de educação física capacitado para uma orientação adequada, assim você poderá ter sucesso e ficará com a saúde em dia!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Overtraining

            Hoje gostaria de compartilhar com vocês uma reportagem que li no portal globo.com sobre Overtraining. Após o texto, tecerei alguns comentários.

            A treinadora e professora de ioga Adriana Camargo corria 21 km no asfalto e 16 km na areia fofa durante a semana. Aos domingos, o trajeto costumava ser de 30 km. Treinos intensos e um vício pelo esporte, que quase não foi minado por conta de um problema sério: o overtraining. Estado de fadiga crônica, causado pelo excesso de treinamento ou recuperação insuficiente, ele foi agindo silenciosamente até estourar de uma vez só. Além das dores e demais consequências, o diagnóstico médico assustou Adriana: ela teria que parar de correr e não poderia sequer sentar tranquilamente numa poltrona de cinema.

            - O médico perguntou se eu estava tentando suicídio e falou que eu não poderia nunca mais correr e, muito menos, praticar ioga. Disse também que não daria para ir ao cinema sem sentir dor. Mas decidi não seguir os conselhos dele de operar. Procurei tratamentos alternativos, como acupuntura, um ioga mais leve e fiquei repousando bastante tempo. Voltei aos poucos e hoje consigo fazer todos os movimentos de ioga. Estou 100% recuperada - diz Adriana, que reclama principalmente das dores nas articulações.

            Sem cuidados, os treinos de Adriana aconteciam de domingo a domingo, sem descanso, garante. A professora de ioga diz que os sintomas foram evoluindo de forma gradativa, mas ela não deu muita atenção. Até que tudo estourou de uma vez só.



            - Eu pifei, tive um curto circuito no meu corpo. Não conseguia levantar a perna, subir uma escada e ainda por cima estava sem voz - acrescenta.

Causas e prevenção

            De acordo com o treinador Manuel Lago, da assessoria ML Mix Run, o overtraining é resultado de uma combinação de três fatores: quantidade abusiva de treinos, pouco descanso e uma dieta pobre. As consequências, por sua vez, vão da ordem muscular, passando por problemas nas articulações, até resultar em malefícios no sistema imunológico e no aspecto psicológico do corredor.

            - O overtraining tem uma incidência maior em corredores de média e longa distância e implica em vários problemas das mais diversas ordens, como: insônia, lesões agudas e crônicas, o sistema hormonal se desequilibra, irritabilidade, diminuição da performance e alteração da pressão arterial. Além dos problemas nos treinos, vai interferir em várias coisas que afetam a qualidade de vida - diz o treinador, que acrescenta: o problema pode ser leve, moderado ou severo.

 
            Segundo o Chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp, Dr. Moisés Cohen, as lesões resultantes do overtraining são várias.

            - Os principais riscos do overtraining são as lesões do sistema muscular esquelético, podendo provocar tendinites, lesões e contraturas musculares ou até mesmo fraturas por estresse. A dor muscular tardia é frequente nas situações de sobrecarga.
O melhor meio, portanto, de se evitar o overtraining é não permitindo que ele apareça. Além de manter uma alimentação balanceada e não extrapolar seus limites nas pistas, é importante descansar bem entre uma atividade e outra, como orienta Manuel Lago.

            - Descansar é para otimizar a recuperação. Implica em uma boa noite dormida, fazer uma sessão de massagem e relaxamento, comer de acordo com a quantidade de treino que realiza. Além disso, o corredor pode passar gelo como forma preventiva, mesmo quando não tenha lesão, e fazer sessões de alongamento ao longo da semana - conclui o treinador.

            Gostaria de destacar aqui a escolha inteligente feita pela Adriana Camargo, uma das personagens da reportagem, em optar por um tratamento conservador (não-cirúrgico) com acupuntura e exercícios menos intensos. Primeiro que de nada adiantaria a cirurgia se o excesso de atividade permanecesse, segundo que o procedimento seria um risco desnecessário.
            Também queria chamar a atenção para a indicação de massagens e aplicação de gelo de maneira terapêutica, mas principalmente, preventiva! Venho salientar que a acupuntura funciona da mesma forma, sendo utilizada terapeuticamente, mas sendo primariamente preventiva.
            Não posso deixar de comentar a indicação de alongamentos! Existe um grande mito de que fazer alongamentos é bom, entretanto não há comprovação científica de que esta prática previne lesões, e o pior é que existe comprovação de que fazer alongamentos antes de praticar um esporte leva a uma perda de desempenho. O que é bom para o corpo é ter flexibilidade, e isso é completamente diferente de ter alongamento! Mas enfim, alongamento dá muito pano para manga, e fica para um outro post...

            Outra questão, não abordada pelo texto, mas que vou acrescentar, é que as vezes estas lesões músculo-esqueléticas que a reportagem correlacionou ao overtraining (ou overuse) podem ser, na verdade, decorrentes de um gesto esportivo inadequado, que acaba por sobrecarregar repetidamente algumas estruturas do aparelho músculo-esquelético, gerando tendinites, bursites, lesões musculares e até mesmo fraturas por estresse. Sendo este o caso, só a correção do gesto será terapeuticamente eficiente.
            É isso aí, continuem correndo, mas sem exagerar. Procure sempre um educador físico qualificado para orientar de maneira adequada a prática de sua atividade física. Vale lembrar que o overtraining está em todos os esportes, e não só na corrida!


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Idoso ou Velho?

Ainda com o tema ‘idosos’, hoje vou publicar um texto de autoria desconhecida, que recebi por e-mail. Vamos à ele:

            Idosa é uma pessoa que tem muita idade. Velha é a pessoa que perdeu a jovialidade.
            A idade causa degenerescência das células. A velhice causa a degenerescência do espírito. Por isso nem todo idoso é velho e há velho que ainda não chegou a ser idoso.
            Você é idoso quando sonha. É velho quando apenas dorme.
            Você é idoso quando ainda aprende. É velho quando já nem ensina.
            Você é idoso quando pratica esportes, ou de alguma outra forma se exercita. É velho quando apenas descansa.
            Você é idoso quando ainda sente amor. É velho quando só tem ciúme e sentimento de posse.
            Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida. É velho quando todos os dias parecem o último de uma longa jornada.
            Você é idoso quando seu calendário tem amanhãs. É velho quando seu calendário só tem ontens.
            O idoso é aquela pessoa que tem tido a felicidade de viver uma longa vida produtiva, de ter adquirido uma grande experiência. Ele é uma ponte entre o passado e o presente, como o jovem é uma ponte entre o presente e o futuro. E é no presente, que os dois se encontram.
            Velho é aquele que tem carregado o peso dos anos, transmitindo pessimismo e desilusão. Para ele, não existe ponte entre o passado e presente, existe um fosso que o separa do presente pelo apego ao passado.
            O idoso se renova a cada dia que começa. O velho as acaba a cada dia que termina.
            O idoso tem seus olhos postos no horizonte dê onde o sol desponta e a esperança se ilumina. O velho tem sua miopia voltada para os tempos que passaram.
            O idoso curte o que resta da vida. O velho se emperra no tempo, fecha-se em sua ostra e recusa a modernidade.
            O idoso leva uma vida ativa, plena, de projetos e de esperanças. Para ele o tempo passa rápido, mas a velhice nunca chega. O velho cochila no vazio de sua vida e suas horas se arrastam destituídas de sentido.
            As rugas do idoso são bonitas porque foram marcadas pelo sorriso. As rugas do velo são feias porque foram vincadas pela amargura.
            Em resumo, idoso e velho são duas pessoas que até podem ter a mesma idade no cartório, mas tem idade bem diferente no coração.
            A vida, com suas fases de infância, juventude, madureza, é uma experiência constante. Cada fase tem seu encanto, sua doçura, suas descobertas. Sábio é aquele que desfruta de cada uma das fases em plenitude, extraindo dela o melhor. Somente assim, na somadas experiências e oportunidades, ao final dos seus anos, guardará a jovialidade de um homem sábio.
            Se você é idoso guarde a esperança de nunca ficar velho.