quarta-feira, 13 de julho de 2011

Overtraining

            Hoje gostaria de compartilhar com vocês uma reportagem que li no portal globo.com sobre Overtraining. Após o texto, tecerei alguns comentários.

            A treinadora e professora de ioga Adriana Camargo corria 21 km no asfalto e 16 km na areia fofa durante a semana. Aos domingos, o trajeto costumava ser de 30 km. Treinos intensos e um vício pelo esporte, que quase não foi minado por conta de um problema sério: o overtraining. Estado de fadiga crônica, causado pelo excesso de treinamento ou recuperação insuficiente, ele foi agindo silenciosamente até estourar de uma vez só. Além das dores e demais consequências, o diagnóstico médico assustou Adriana: ela teria que parar de correr e não poderia sequer sentar tranquilamente numa poltrona de cinema.

            - O médico perguntou se eu estava tentando suicídio e falou que eu não poderia nunca mais correr e, muito menos, praticar ioga. Disse também que não daria para ir ao cinema sem sentir dor. Mas decidi não seguir os conselhos dele de operar. Procurei tratamentos alternativos, como acupuntura, um ioga mais leve e fiquei repousando bastante tempo. Voltei aos poucos e hoje consigo fazer todos os movimentos de ioga. Estou 100% recuperada - diz Adriana, que reclama principalmente das dores nas articulações.

            Sem cuidados, os treinos de Adriana aconteciam de domingo a domingo, sem descanso, garante. A professora de ioga diz que os sintomas foram evoluindo de forma gradativa, mas ela não deu muita atenção. Até que tudo estourou de uma vez só.



            - Eu pifei, tive um curto circuito no meu corpo. Não conseguia levantar a perna, subir uma escada e ainda por cima estava sem voz - acrescenta.

Causas e prevenção

            De acordo com o treinador Manuel Lago, da assessoria ML Mix Run, o overtraining é resultado de uma combinação de três fatores: quantidade abusiva de treinos, pouco descanso e uma dieta pobre. As consequências, por sua vez, vão da ordem muscular, passando por problemas nas articulações, até resultar em malefícios no sistema imunológico e no aspecto psicológico do corredor.

            - O overtraining tem uma incidência maior em corredores de média e longa distância e implica em vários problemas das mais diversas ordens, como: insônia, lesões agudas e crônicas, o sistema hormonal se desequilibra, irritabilidade, diminuição da performance e alteração da pressão arterial. Além dos problemas nos treinos, vai interferir em várias coisas que afetam a qualidade de vida - diz o treinador, que acrescenta: o problema pode ser leve, moderado ou severo.

 
            Segundo o Chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp, Dr. Moisés Cohen, as lesões resultantes do overtraining são várias.

            - Os principais riscos do overtraining são as lesões do sistema muscular esquelético, podendo provocar tendinites, lesões e contraturas musculares ou até mesmo fraturas por estresse. A dor muscular tardia é frequente nas situações de sobrecarga.
O melhor meio, portanto, de se evitar o overtraining é não permitindo que ele apareça. Além de manter uma alimentação balanceada e não extrapolar seus limites nas pistas, é importante descansar bem entre uma atividade e outra, como orienta Manuel Lago.

            - Descansar é para otimizar a recuperação. Implica em uma boa noite dormida, fazer uma sessão de massagem e relaxamento, comer de acordo com a quantidade de treino que realiza. Além disso, o corredor pode passar gelo como forma preventiva, mesmo quando não tenha lesão, e fazer sessões de alongamento ao longo da semana - conclui o treinador.

            Gostaria de destacar aqui a escolha inteligente feita pela Adriana Camargo, uma das personagens da reportagem, em optar por um tratamento conservador (não-cirúrgico) com acupuntura e exercícios menos intensos. Primeiro que de nada adiantaria a cirurgia se o excesso de atividade permanecesse, segundo que o procedimento seria um risco desnecessário.
            Também queria chamar a atenção para a indicação de massagens e aplicação de gelo de maneira terapêutica, mas principalmente, preventiva! Venho salientar que a acupuntura funciona da mesma forma, sendo utilizada terapeuticamente, mas sendo primariamente preventiva.
            Não posso deixar de comentar a indicação de alongamentos! Existe um grande mito de que fazer alongamentos é bom, entretanto não há comprovação científica de que esta prática previne lesões, e o pior é que existe comprovação de que fazer alongamentos antes de praticar um esporte leva a uma perda de desempenho. O que é bom para o corpo é ter flexibilidade, e isso é completamente diferente de ter alongamento! Mas enfim, alongamento dá muito pano para manga, e fica para um outro post...

            Outra questão, não abordada pelo texto, mas que vou acrescentar, é que as vezes estas lesões músculo-esqueléticas que a reportagem correlacionou ao overtraining (ou overuse) podem ser, na verdade, decorrentes de um gesto esportivo inadequado, que acaba por sobrecarregar repetidamente algumas estruturas do aparelho músculo-esquelético, gerando tendinites, bursites, lesões musculares e até mesmo fraturas por estresse. Sendo este o caso, só a correção do gesto será terapeuticamente eficiente.
            É isso aí, continuem correndo, mas sem exagerar. Procure sempre um educador físico qualificado para orientar de maneira adequada a prática de sua atividade física. Vale lembrar que o overtraining está em todos os esportes, e não só na corrida!


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