quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Terapia Manual

            O texto a seguir é de autoria de um grande fisioterapeuta: Helcio Gongora. Esse mestre é graduado em fisioterapia pela Universidade de São Carlos, especialista em fisioterapia desportiva pela UNIFESP, RPGista pelo instituto PH. E. Souchard, com formação em diversos métodos de terapia manual, inclusive com formação internacional realizada na Australia.
            Hoje ele é membro do CETE/EPM/UNIFESP, além de ser integrante do grupo de patologias da coluna vertebral e supervisor dos atendimentos de fisioterapia traumato-ortopédica e desportiva no CETE/EPM/UNIFESP.
            Também ministra aulas sobre terapia manual, então aproveito aqui para divulgar o próximo curso, que será realizado em São Paulo nos dias 07, 08, 14 e 15 abril (módulos de lombar e sacro-ilíaca); 11, 12, 18 e 19 de agosto (módulos de cervical e torácica) ; e 20, 21, 27 e 28 de outubro (módulo de articulações periféricas). Para mais informações, acesse o blog Mobilize Terapia Manual.
            Depois de uma apresentação de um curriculum desses, vamos ao texto de quem sabe do que está falando!

            Escrever sobre Terapia Manual é sempre um grande desafio, pois o universo da Terapia Manual abrange muitos métodos que nem os diversos livros da área foram capazes de condensar. Porém, tentaremos expor aos leitores o que a Terapia Manual tem em sua essência.
            Quando se fala sobre TERAPIA MANUAL, parece impossível evitar o problema de uma ênfase desordenada sobre as técnicas e até mesmo comparações com as usadas por diferentes terapeutas como, por exemplo: MAITLAND, MULLIGAN, RPG, ROLFING, CYRIAX, QUIROPRAXIA, TÉCNICAS MIOFASCIAIS etc. Isto é bastante inadequado porque impede que se veja toda a caracterização do conceito de tratamento. É devido a este pensamento simplista que, neste momento, tentaremos esclarecer o conceito global de terapia manual com as técnicas e suas adaptações mostrando a relação com o todo.
            Didaticamente, a abordagem em terapia manual é dividida em quatro partes principais:
            1- Exame analítico e físico do paciente;
            2- modo de planejamento do tratamento;
            3- técnicas de tratamento; e
            4- avaliação continuada.
            Embora seja importante ter habilidade em cada parte, o grau de habilidade necessário para cada uma não é igual e o fisioterapeuta deve sempre se lembrar que o melhor tratamento não pode ser feito sem um exame e técnicas de tratamento perfeitamente elaborados. No entanto, constuma-se dizer que as técnicas são a parte menos importante sendo sobreposta pela avaliação analítica continuada.
            Os problemas associados ao diagnóstico e às nomenclaturas diagnósticas são difíceis de enfrentar. Mesmo em medicina, denominações clínicas são, muitas vezes, inadequadas, incorretas, ligadas a padrões das sintomatologias ou até mesmo estão baseadas em suposições. Algumas vezes é difícil relacionar a história do paciente e os achados do exame físico e do exame de imagem a um diagnóstico preciso e significativo, assim como chegar a uma compreensão tanto do estado quanto do estágio de mudanças patológicas. Está claro que se basearmos o tratamento somente no diagnóstico, podem ser enfrentadas dificuldades reais para torná-lo preciso e, consequentemente, significativo. Desta forma, o que o fisioterapeuta deve realmente fazer é uma avaliação funcional do seu paciente. Percebam que em nenhum momento foi dito para negligenciar o diagnóstico do paciente ou mesmo a história de evolução do distúrbio, porém, somente estes dois fatores seria insuficiente. Assim, neste exame funcional, um terapeuta manual precisa examinar:

a)  Área da dor: localização exata da queixa e se ela é espalhada ou localizada ou mal localizada ou pontual etc.
b)  Característica da dor: queimação, pontada, formigamento etc.
c)   Duração da dor: se a dor é constante ou intermitente
d)  Comportamento da dor: 3 perguntas básicas são feitas:
                1- qual movimento ou atividade que provoca os sintomas.
                2- Se a dor fica insuportável ou não.
                3-  o que o paciente faz que alivia ou sana sua queixa.
e)  História da moléstia atual e doenças pregressas (como qualquer outra avaliação).
            Além de coletar minuciosamente o comportamento do distúrbio do paciente, o terapeuta realiza:
a)   Inspeção estática: desvios posturais, diferença de ritmo respiratório, assimetrias, posturas de proteção etc;
b)  Inspeção dinâmica: Movimentos ativos que reproduzem a queixa do paciente: por exemplo: levantar o braço, encostar as mãos no solo, inclinar a cervical etc;
c)    Palpação de:
                        - Tecido miofascial: investigando possíveis nódulos, tensões tanto fáscial quanto muscular, dores;
                        - Tecido neural: investigando possíveis pontos de encarceramento neural e déficit de deslizamento neural apropriado;
                        - Movimentos articulares: procurando déficit de movimentos acessórios e movimentos fisiológicos (ambos são necessários para uma boa artrocinemática)

            OBSERVAÇÃO: Vale lembrar que a avaliação sempre tem o objetivo de compreender a queixa do paciente, portanto, não devemos valorizar toda e qualquer irregularidade, assimetria ou dor gerada na avaliação física (pois a avaliação é muitas vezes dolorosa) a não ser que ela tenha relação direta com o distúrbio do seu paciente. “Um bom fisioterapeuta vai sempre de encontro à dor do paciente”.

            AVALIAÇÃO CONTINUADA

            O último item é a já citada “Avaliação Continuada”:
            O terapeuta deve sempre reavaliar o quadro clínico (repetindo os pontos-chave dos itens acima) do paciente nas seguintes circunstâncias:
            1 - após cada manobra de tratamento (mesmo que a manobra seja um thrust articular ou uma mobilização de 30 segundos ou uma postura de RPG de 05 minutos);
            2 - no início de uma nova sessão: reavaliando como ele evoluiu de um dia para o outro;
            3 - quando julgar que o tratamento aplicado está ineficaz e o mesmo precisa ser repensado/reestruturado.
            A avaliação continuada é um dos pontos fortes do terapeuta manual e, apesar de parecer muito metódico ou parecer retardar a sessão, ajuda o terapeuta a guiar a sua linha de raciocínio e o ajuda a não insistir em manobras, técnicas, abordagens inúteis ou mesmo lesivas ao paciente.

            No próximo post daremos continuidade ao texto do Hélcio, mas com a parte de tratamentos. Até mais!

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