quarta-feira, 27 de julho de 2011

Entrevista: Ricardo Sasaki (parte 1)


            Semana passada eu tive a honra de entrevistar o fisioterapeuta do São Paulo Futebol Clube, o Ricardo Sasaki. Fui até o CT do São Paulo, onde fui muito bem recebido e conversamos numa sala do REFFIS – Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiológica. Gostaria de destacar a simpatia e a atenção do Sasaki, que prontamente me atendeu, embora estivesse na correria do dia-a-dia.
            Tivemos, na verdade, uma conversa descontraída, onde pude conhecer melhor a sua história na fisioterapia, pude ouvir algumas histórias sobre o mundo do futebol, além de obter algumas de suas opiniões quanto à alguns temas.
            Muito feliz com esta oportunidade, divido com vocês as palavras deste mestre! Serão dois posts, dividindo a entrevista em duas partes.

            CF – Qual a sua formação?

Sasaki – Primeiro eu fiz educação física na FEFISA (Faculdades Integradas de Santo André), e assim que eu terminei, ingressei na PUC de Campinas para fazer fisioterapia. Fiz uma especialização em ortopedia esportiva na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e outra em fisiologia do exercício na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

            CF – O que te fez sair da área de educação física?

Sasaki – Quando  estava no último ano de educação física, comecei a trabalhar numa clínica que fazia um trabalho de transição entre a fisioterapia e o esporte, e era no futebol. A partir daquele momento eu decidi que ia fazer fisioterapia, era daquilo que eu gostava.

            CF – Além desta formação, fez algum curso de extensão?

            Sasaki – Fiz sim. Eu tenho alguns cursos, como de Osteopatia, mas não sou um fisioterapeuta de mão cheia neste aspecto. Eu acho que as pessoas que fazem esta parte de terapia manual tem que ter um feeling, um pensamento, uma mão.
            Minha mão eu acho fraca para isso, me dou melhor numa outra linha que levo, que gosto mais, uma linha mais mecanicista, com uma parte de eletroterapia, uma parte de exercícios e cinesiologia. A educação física e a parte de fisiologia me ajudaram muito para a prescrição de exercícios, isso é uma coisa que ajuda demais.

            CF – O que você ainda quer estudar? Tem algum curso que pretende fazer?

Sasaki – Nossa, tem tanta coisa que você vê hoje! Fica difícil eu te falar um curso, mas eu gostaria de ter tido mais oportunidade de ir à alguns centros de reabilitação no exterior, principalmente nos EUA, pois o que eu conheço fora do pais é apenas relacionado ao futebol. Eu conheço pouco dos EUA sobre centro de reabilitações e algumas coisas que conheci, gostei muito. Também gostaria de conhecer uma parte na Europa em geral, principalmente nos países que jogam futebol. É uma loucura o como o americano pensa e como o europeu pensa.

            CF – Então você sempre foi para esta área ortopédica e esportiva?

Sasaki – Sempre fui para a área de traumato-ortopedia, mas teve uma época, por causa da parte de fisiologia, que eu quase fui fazer cardio-respiratório! Passei até no Dante Pazzanese, deu uma chacoalhada, mas não adiantou, era ortopedia mesmo que eu gostava, uma coisa que eu sempre fui focado.

            CF – Sempre trabalhou com futebol?

Sasaki – Não. Logo que me formei em fisioterapia, eu precisava começar a trabalhar para ganhar dinheiro. Tive o convite de um amigo, Fernando Guimarães, que trabalha com hipoterapia, e fiquei trabalhando uns 6 meses com ele. Mas na verdade, o Fernando me convidou para ir pros EUA fazer um curso e me especializar em hipoterapia, então eu tive que recusar, pois se eu fizesse este curso, largaria tudo que havia feito atrás. Então falei para o Fernando que não dava, que eu adoro cavalos, mas tratar das crianças com problema neurológico, pra mim era  uma paulada.
Mas acho que eu tinha que passar por isso, passei, aprendi muita coisa, agradeço muito ao Fernando, foi muito legal. Mas é complicado, você precisa ter uma estrutura boa para poder trabalhar em neuro infantil.
Essa foi a época que eu não trabalhei com futebol, depois logo fui trabalhar no São Bernardo, trabalhei numa clinica de ortopedia que tinha esse contato, depois eu fui chamado para trabalhar no Bragantino.
Comecei como estagiário no Bragantino, com o Rosan e o Marco Aurélio, que tinham saído do São Paulo e ido pro Bragantino. Uma época eu fiquei nas categorias de base, e o Rosan tocava o profissional.

            CF – Como você chegou ao SPFC?

Sasaki – Então, o futebol tem alguns problemas dependendo do time que você pega. Eu fiquei 6 meses sem receber do Bragantino, isso foi em 1994/1995, e chegou uma hora que eu pedi para ser mandado embora. Foi nessa época que o Fábio Mahseredjian, um amigo que fez faculdade comigo, também estava no bragantino e hoje é preparador físico da seleção brasileira e do internacional, me chamou para ir para a Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), para trabalhar junto com o Dr Turíbio Leite de Barros.
Trabalhei por um bom tempo com esta parte de fisiologia do exercício na Escola Paulista de Medicina. E daí surgiu a oportunidade de eu vir pro São Paulo. Porque o São Paulo precisou de um fisioterapeuta e de um médico, e na época o Dr. Turíbio indicou eu e o Dr. Antonio Maceo de Castro, o Tonhão.
Por sorte, o técnico que estava aqui era o Parreira, e eu tinha trabalhado com ele no Bragantino.
Essas coisas no futebol, parece uma coisa de panela, uma coisa fechada, mas ajuda muito as pessoas saberem com quem vão trabalhar. São cargos de confiança.

CF – Foi considerado o 9º melhor fisioterapeuta do mundo pelo site espanhol Guia Lo Mejor Del Mundo (GMM). Como foi ter este reconhecimento?

Sasaki – Não é desmerecendo as coisas, mas é, na verdade, um site de jornalistas e a análise foi feita por eles. Eu te garanto que tem um montão de fisioterapeuta melhor do que eu, como tem um montão que é pior, e isso ai foi pelo contato que eu tive fora, pessoas que eu tratei fora, então não é um título pela capacidade técnica, mas talvez por quem eu tratei fora.

            CF – O que você vê de diferente na fisioterapia do exterior em relação à do Brasil?

Sasaki – Lá fora o números de recursos é enorme, tanto nos EUA quanto na Europa, pois a quantidade de equipamentos que são lançados é muito grande. Acho que no Brasil, agora com a abertura para a importação, e mesmo o acesso a compra que a internet proporciona, as coisas vão ficar mais fáceis, só que o preço aqui no Brasil é algo exorbitante com relação aos preços lá fora.
Já quanto à maneira de trabalhar, eu não vejo pessoal melhor que aqui no Brasil, não é puxando a sardinha, mas aqui o cara tem uma outra visão. O jeito do brasileiro é assim, se você falar para o cara que tem uma borrachinha e uma geladeira, ele se vira para fazer fisioterapia!
Para o brasileiro o que você der na mão dele, ele se vira e faz o que tem que fazer, e faz bem. Isso eu acho que é diferente, porque o cara lá fora esta acostumado a ter o equipamento, e quando ele não, não sabe o que fazer.

            CF – O que você acha que faz os atletas virem do exterior para serem tratados aqui? É a confiança que ele tem nos profissionais e no clube, é a qualidade dos profissionais, é a estrutura do clube, ou o fracasso no tratamento lá fora?

Médico do Inter visita o São Paulo
Sasaki – Eu acho que tudo, é isso tudo que você está falando. Alguns atletas é muito pela confiança, você vai criando um vínculo e ele vai confiando em você. Isso eu acho que independe um pouco da sua capacidade.
Outra coisa é que lá fora eles trabalham bem diferente. É aquilo que eu estava te falando, eu gosto muito de terapia manual, como Rolfing e osteopatia, e quando eu não sei aplicar, e sei que o atleta vai precisar, eu indico para uma pessoa, o atleta faz e depois volta comigo e continua trabalhando.
E eu acho que importante também é com relação à prescrição de exercícios. Você fazer uma resistência para um atleta só com a sua mão, uma resistência manual, e achar que vai ser suficiente para ele voltar para a atividade dele, é um engano, eu acho muito difícil o atleta ter condição de voltar pra fazer a atividade.
E é isso que acontece muito lá fora, reabilitação com resistência manual e terapia manual.
Vou te contar uma história que foi muito engraçada. Teve um ano que veio o Edmílson, o Tiago Mota, enfim, vieram vários jogadores do Barcelona, para se reabilitar aqui. E de lá veio também um fisioterapeuta do Barcelona. Depois eu fui pra lá, para retribuir esta visita, e era vergonhoso o que os caras tinham de estrutura como fisioterapia, isso era 2006/2007, era ridículo para um clube como o Barcelona. Tanto é que depois disso, que os caras viram como que era aqui, o presidente mandou fazer uma nova estrutura para eles.

            CF – Como funciona a vinda de um jogador para se tratar aqui no Reffis?

Sasaki – Os atletas vem para o Brasil e tentam conciliar a folga com o tratamento aqui no Reffis. Mas quando você quer prorrogar demais esta permanência aqui, o clube quer que ele volte, e como ele é atleta do clube, não pode ficar aqui.
Então fica sempre uma coisa quebrada, foi até uma tema de discussão aqui, se vamos continuar aceitando este tipo de coisa, ou não. Porque a gente tem uma metodologia de trabalho, e depois o cara tem que voltar para lá, com outro tipo de trabalho, isso é um problema.
Nós até tentamos passar o que é para fazer lá. Um exemplo que dou para você é o Júlio Batista, ele veio, ficou um tempo. Ele teve uma lesão de menisco, fez a cirurgia aqui no Brasil, e fez uma fase da reabilitação aqui. Só que ele teve que voltar, então nós mandamos um fisioterapeuta daqui, que ficou um tempo com ele lá, pra ele poder voltar, e voltou super bem.
O São Paulo permite isso para alguns atletas, para outros não dá. Se vai fazer uma falta aqui dentro, não dá para ficar liberando o fisioterapeuta para poder ir com o jogador.
Não dá, por que a gente não ganha nada com isso e o clube também não. Ele ganha na verdade na idéia que o Juvenal teve de montar o Reffis e dar um status para levar este nome para o exterior. Dá prestígio ao clube, saber que é um clube sério. Porque antigamente, o problema era que o jogador falava que vinha para o Brasil para fazer fisioterapia, só que os caras achavam que ele queria voltar para ver a famílias e os amigos. Então vários fisioterapeutas de fora vieram e viram que não. Lá fora, não se trabalha dois períodos, lá só se trabalha o período que o jogador está no clube. O atleta vem ver a família? Vem ver a família, mas ele trabalha pra caramba também.

            CF – Como vocês dividem os pacientes entre a equipe aqui do Reffis? Há alguma divisão?

Sasaki – Não, caiu aqui é para todo mundo. Até porque, o cara faz todo dia 2 períodos de fisioterapia, é de segunda à segunda se precisar, só no domingo que ele faz um período apenas na manhã.
Então não tem isso, tem mês que eu viajo e os jogadores ficam com o pessoal que está aqui para tratar, ou eles viajam e eu tenho que ficar para tratar.
Assim, uma coisa que é principal, que eu acho que dá certo aqui dentro do Reffis, é o grau de amizade que a gente tem, eu, Rosan, Betinho, Alê, Cilmara. É o grau de amizade, e essa amizade na verdade, na capacidade da gente se comunicar, tanto comunicar aqui entre nós, como com os outros setores do clube.
Outra vantagem é que o Sanches está aqui direto, então qualquer problema a gente discute com ele e toca o tratamento pra frente. 

            Por hoje é isso! E não deixem de ler o resto da entrevista, em que ele fala mais sobre o dia-a-dia com os jogadores, viagens, técnicos, Kaká, Luis Fabiano e sobre a fisioterapia no Brasil. Não perca o post sábado!


Um comentário:

Paulo Henrique disse...

Muito Boa a entrevista, camarada! Me formo ano que vem e, essa historia do Sasaki só reforça a minha ideia de que ser sempre bom naquilo que vc faz, dá certo sempre! Parabens pelo blog aew! Aquele abraço!