sábado, 2 de julho de 2011

Idosos: Muito à Desenvolver

 Segundo a Classificação da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria, são considerados idosos os indivíduos com 65 anos ou mais.
Não é de hoje que se sabe que a população brasileira está envelhecendo. O que poucos se dão conta é de que, atualmente, os idosos são saudáveis e ativos, mantendo sua independência e autonomia.
Assim, infelizmente, é notória a persistência de crenças e estereótipos sobre o significado de “ser velho” e sobre o comportamento do idoso, resultando no rótulo do idoso como um adulto menos capaz, infantilizando-os. A vitimização dos idosos, ou seja, o fato de vê-los como “coitadinhos”, acaba contribuindo para que se diminua a autonomia e independência do idoso.



Antes de mais nada, devemos respeitar a história de vida e os valores do idoso. Devemos notar que estamos diante de indivíduos com liberdade moral, intelectual e física, e não incapazes de praticar as suas atividades rotineiras, dentro e fora de casa.
E ainda vão além, não raro, podemos encontrar idosos realizando trabalhos manuais pesados, bem como praticando exercícios de alta intensidade, chegando a disputar maratonas como a São Silvestre, e deixando muitos jovens para trás durante o percurso!
Mas isso não significa que os idosos não necessitam de cuidados especiais. Com a senescência, termo que designa o envelhecimento natural, temos uma série de alterações fisiológicas. Estudos mostram que temos uma diminuição em 8% da força e 1% da potência muscular a cada década após os 30 anos, temos redução da flexibilidade, da resistência. Temos também algumas alterações de sensibilidade, diminuição dos reflexos, redução da densidade mineral óssea, degeneração de estruturas articulares, enrijecimento articular e muscular, diminuição do equilíbrio e coordenação, alterações na função cardiovascular e pior qualidade de sono.
            Além disso, ocorre a diminuição do número de fibras musculares, principalmente as tipo II (de contração rápida, de potência), resultando na diminuição da capacidade de produzir movimentos rápidos.
            Dessa forma, os idosos são naturalmente mais susceptíveis à quedas, declínio funcional, hospitalização, além de algumas doenças características desta fase etária, como as demências da doença de Alzheimer ou mesmo a demência senil. Resumindo, os idosos são mais susceptíveis à perda da independência e autonomia.
            O crescimento da população geriátrica levou a um aumento do número de internações agudas, da prevalência das demências, além das quedas de própria altura, que hoje constitui um problema de saúde pública com as suas conseqüências.
            Os idosos constituem grande fatia dos pacientes que são internados em hospitais, havendo uma elevada taxa de mortalidade relacionada à estas internações. A desnutrição, o declínio funcional e imobilidade, os déficits cognitivos e a polifarmácia tem sido correlacionadas com maiores taxas de mortalidade.


As demências são caracterizadas clinicamente pelo comprometimento da memória e prejuízo de pelo menos outro domínio cognitivo (linguagem, praxia, gnosia, orientação têmporo-espacial ou função executiva).
Alguns estudos comprovam que exercícios aeróbicos podem ter benefício consistente no desempenho cognitivo de idosos sedentários, diminuindo até a ocorrência de demências. Além disso, exercícios em grupo estimulam a sociabilidade e a formação de novas amizades, contribuindo para a redução da depressão e para uma melhor qualidade de vida.


            A queda pode ser um evento sentinela, sinalizador do início do declínio da capacidade funcional, ou sintoma de uma nova doença. É o mais sério e freqüente acidente doméstico que ocorre com os idosos e a principal etiologia de morte acidental em pessoas acima de 65 anos.
            Alguns estudos prospectivos indicam que 30% a 60% da população da comunidade com mais de 65 anos cai anualmente e metade apresenta quedas múltiplas. Aproximadamente 40% a 60% destes episódios levam a algum tipo de lesão, sendo 5% a 6% injúrias mais graves (não incluindo fraturas) e 5% de fraturas.
            Entre 20% e 30% dos “caidores” (idosos com mais de duas quedas por ano) que sofreram alguma lesão apresentarão redução da mobilidade, da independência, e aumento do risco de morte prematura.
            A queda é responsável por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos. Quase metade das mortes segue-se a uma fratura de fêmur.
            A prevenção da queda é de importância ímpar pelo seu potencial de diminuir a morbidade e a mortalidade, os custos hospitalares e o asilamento conseqüentes. Os programas de prevenção têm a vantagem de, paralelamente, melhorar a saúde como um todo, bem como a qualidade de vida, sendo sua prática especialmente importante para a faixa etária mais idosa.
            Além da queda em si, o temor de novas quedas é prevalente e relevante, ocorrendo em 30% a 73% dos idosos. A perda de confiança na capacidade de deambular com segurança pode resultar em piora do declínio funcional, depressão, baixa auto-estima e isolamento social. Após a queda, o idoso pode restringir sua atividade por temor, pela dor, ou pela própria incapacidade funcional.
            Dentre os fatores de risco para quedas estão: histórico prévio de quedas, idade, sexo feminino, polifarmácia (medicamentos), condição clínica, distúrbio de marcha e/ou equilíbrio, sedentarismo, estado psicológico (medo de cair e estado depressivo), deficiência nutricional, declínio cognitivo, deficiência visual, fatores ambientais (iluminação, piso, obstáculos, ausência de adaptações como corrimãos, etc) e fatores comportamentais (exposição à riscos).
            A escassez de programas sociais e de saúde voltados tanto para a promoção da independência, como para a manutenção do idoso dependente no seu domicilio levam, em muitos casos, à internação precoce em instituições de longa permanência como casas de repouso e asilos, que deveriam ser utilizadas como última alternativa por anciãos muito frágeis e dependentes que não pudessem ser mantidos em seus lares.


            Tendo estas informações como base, o melhor caminho é a prevenção. Cabe à fisioterapia, junto à uma equipe multidisciplinar, realizar trabalhos que promovam a autonomia e independência dos idosos. Para tanto, prega-se o hoje o Envelhecimento Ativo, que não se limita à manter uma atividade física, mas sim conservar o papel social que aquele idoso sempre desempenhou naquela sociedade.
            Estas atividades vão desde funções sociais e familiares, passando por funções econômicas e até as funções culturais, espirituais e civis. Trata-se da participação na sociedade de acordo com as necessidades, desejos e capacidades, mesmo que para isso necessitem de adaptações, proteção e segurança adequadas.


Fontes:
Queda em Idosos: Prevenção – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
Efeitos dos exercícios resistidos no desempenho cognitivo de idosos com comprometimento da memória: resultados de um estudo controlado – Einstein, 2008; 6(4):402-7
Atuação da fisioterapia na síndrome da fragilidade: revisão sistemática – Rev Bras Fisioter São Carlos, v.13, n 5, p 365-75, set/out 2009


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